quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Reflexão num dia de Outono

Há muitos dias que era esperado! As cores explodiram nas árvores, enquanto as folhas amarelecidas caíam mas sem chuva, tão desejada por estas bandas. Gosto de passear pelos caminhos pejados de folhas e ouvir o crack crack dos sapatos pisando as folhas secas . 

Enquanto caminho revejo-me nesta paisagem outonal, nostálgica, prenúncio do inverno que se aproxima a passos largos. 

Sinto que também eu habito o Outono . Um tempo , que por muita cor que mantenha, se caracteriza pela nostalgia e saudade de uma primavera que já vivi. Também o Inverno caminha para mim, sinto- o.

 Quantas primaveras ainda habitarei? Quantos outonos ainda serão companheiros de caminhadas ao longo dos rios e das árvores irradiantes de vermelhos e amarelos que acabam jazendo nos caminhos que hoje gosto de percorrer ? 

Perguntas imensas. Perguntas nostálgicas. Perguntas angustiantes, por vezes . Perguntas sem respostas. 

Certezas? Uma. O Outono da Vida merece carinho! Merece alegrias! Merece cor, muitas e sorrisos, mais ainda . Mas nao merece ser espezinhado por ninguém. 

Todos habitaremos o último Outono da Vida , só ignoramos quando esse tempo virá. 


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Reflectindo ... no Portugal queimado





Ontem,atravessei o distrito de Leiria e Coimbra e parte de Viseu num expresso que me trouxe até às Termas de S.Pedro do Sul.
À medida que íamos avançando para o interior,  os vestígios dos fogos estavam por toda a parte. 
Portugal queimado quer por fenómenos naturais quer por mão humana. 
A revolta começou a revelar-se nos comentários dos passageiros do expresso. Além da revolta, senti-me estarrecida com a agressividade das  palavras que ouvia. A pena de morte era  o castigo preferido daqueles portugueses, que , afinal, são geralmente apelidados de pacíficos...
Por outro lado,as exigências do Presidente, como se ele fosse  Primeiro Ministro, vieram-me à memória, pela leviandade com que ele exige o que não pode cumprir, tirando partido da suposta afectividade que o povo, que não hesitaria em votar a pena de morte para criminosos, lhe vai demonstrando.
 Marcelo sempre foi comentador, sempre quis o poder, conseguindo disfarçar essa ambição com uma atitude pretensamente displicente, como só os homens inteligentes sabem fazer. Não conseguiu ser líder do Psd nem presidente da Câmara de Lisboa. Foi eleito Presidente depois de uma campanha longa como comentarista na TVI. Os Media demonstraram o seu poder. E ele continua usando estratégias populistas para se impor. 
Está em todo o lado, compreende tudo e todos , vai lançando farpas de acordo com os interesses do momento... ora ataca o passos, ora ataca o Costa, mas coloca-se sempre acima do poder executivo e próximo dás populações, principalmente se estas foram vítimas de alguma calamidade! 
A demagogia e o populismo no auge. 
O interior está destruído. Tudo tem de ser reconstruído o mais rápido possível. Continuar o jogo do empurra culpas não adianta nada para uma reconstrução rápida. Pelo contrário,contribui para alimentar diferenças, ódios pessoais e institucionais , raivas e agressividades. 
Parece que o Presidente está a apostar na intensificação do descontentamento e da tristeza das populações atingidas pelos fogos. 

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Voltar ao passado... (escrito em 19/11/2016)

Há mais de 2 anos que não vinha aqui. E quantas coisas aconteceram, tendo algumas delas mudado a minha vida de modo quase absoluto. E digo quase, porque eu continuo sendo eu, se bem que não a mulher de há tempos.
A vida prega- nos partidas bem inesperadas.
Hoje, nem eu sei explicar por que razão, apeteceu- me vir até esta sala de estar, deixar palavras, sentimentos , estados de alma cinzentos como as nuvens que cobrem a cidade. Talvez porque eu própria me sinta cinzenta. Esta minha obsessão pelas cores deve ter algum significado implícito ainda por descobrir.
Gosto do azul. Azul mar. Azul céu.Azul água. Azul claro. Azul escuro. Azul sonho . Azul infinito.

Há dias assim...

Sentada no café do costume, a meio da manhã, pensava no que havia decidido fazer, ao acordar. Hoje seria terapia da cor, o que, para mim, significa borrar com cores as flores do quadrinho de cerâmica que me espera na metade da varandinha, convertida em estúdio, com algum vento que me visita por entre uma pequena fresta. 
As flores estão ali, aguardando as cores que a minha disposição quiser mais do que as cores que a natureza lhe concedeu. Isto das cores, tem que se lhe diga. Nem sempre gostamos das mesmas e as circunstâncias em que a opção é feita também pode ser determinante na escolha. Pensemos no "preto".... se o deixarmos  perto  de outras , tem um papel de realce dessas outras. Se o utilizarmos só,   para a maioria das pessoas comuns ,  significa tristeza, luto... Logo, as cores usadas para borrar as flores dependerão essencialmente da disposição, do maior ou menor prazer que o meu olhar sentir no momento exacto em que segurar o pincel...
Na esplanada, com o café na mesa, acompanhada apenas por uma senhora, que não conheço, apesar de se tratar de um café de bairro, na mesa do lado, falando ao telefone. 
"Agora, estou aqui a tomar café. Depois, passo por lá. Não me apetece estar a aturar o meu marido hoje. Vou aí , está bem?"
Não faço a mínima ideia de onde é esse "lá" e "aí" mas isso também não é importante para o caso. 


Afinal, esta frase pode significar muita coisa tal como a cor "preta" que eventualmente possa escolher para as flores de cerâmica que me aguardam na mesa de pinturas. Tanto podem referir-se a uma situação irreversivel no casal como a uma mera necessidade de espaço por um dia ou horas ou minutos... só a senhora o saberá ou é apenas uma situação momentânea de disposição... quem sabe


E parece que a minha disposição
para borrar as flores com tintas decididas , no momento, regressou...
A varanda , os pincéis, as flores esperam-me... Há dias assim...